quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Pode ser que realmente Deus não exista. E talvez seja essa a maior prova de que isso é irrelevante. Porque é porque ele pode não existir que ele é Deus. Afinal, se Deus existe como a porta existe, acho que isso me incomodaria mais do que dizer que é possível que ele não exista. É exatamente aqui que mora a graça da fé, no fato de que ela precisa da dúvida, da possibilidade do "não", a possibilidade do "talvez".
Muitas certezas e um dia não precisaremos mais dos sentimentos, ou poderemos ser substituídos por robôs ou máquinas de latinhas de coca-cola. Eu quero a dúvida, a incógnita, o prazer de não saber. Quero olhar pra mim mesmo e perguntar "Será?". Quero amar com o calafrio das possibilidades, deitando-me sem a certeza que um dia acordarei igual. Por isso é bem possível que Deus não exista, que o amor não exista e que eu próprio seja uma grande trapaça. Tudo é possível, até as mais profundas impossibilidades... e por isso que eu continuo insistindo em apostar as fichas do bolso do meu paletó que aquilo em que eu creio, não apenas é real, mas existe em mim.
É possível que Deus não exista, que o amor não exista, que você não exista. É bem possível que tudo não passe de um sonho, ou de um pesadelo, e que uma hora você acorde, desperte do seu sono profundo e veja que nada era impossível. É possível que toda crença seja ilusão, toda fé seja coerção ou uma maneira delicada de encarar o fato de que o fim chegará.
Deus, que quando olhamos de longe parece que não existe, como uma miragem ruim. 
Que de tão perto, não parece Deus. Não tem raios lasers, trovões ou efeitos especiais. 
Deus que em uma distância segura fica bem acomodado dentro dos nossos relicários, e como toda relíquia, não pode ser tocada senão estraga. Ficar tocando em Deus, tocando mesmo, com os dedos sujos ou mãos molhadas, parece que o estr

aga.
Por isso inventaram o Deus de longe - perto, o Deus que a gente alcança apenas com as mãos levantadas e com as músicas certas. Inventaram um Deus que parece que existe mais do que o Deus que existe de verdade. Um Deus chato, que vive por aí longe das festas e perto das gravatas.
Criaram um Deus Levítico, mas que nunca leu Cantares. Um Deus de milagre certo, tempo certo, lugar certo, com tanta coisa certa que ficou chato.
Como precisavam de um Deus correto, não se importaram em deixá-lo feio, sem graça, sem sal, sem nada. Um Deus que cabe na nossa matriz e na nossa gaiola.
Meu Deus, o que fizeram com você!?
E se o verdadeiro Armagedom for a vinda de um Deus tão diferente que nos pegará com o rosto coberto de vergonha!? E se ele chegar com vinho e violão? E se ele ler uma poesia ao invés de ter fogo pela ventas?
Então seremos tentados a crucificá-lo (de novo). Será melhor calá-lo, pedir silêncio, dizer que essa tipo de coisa não cabe aqui... Mas, aí será tarde demais. E é por isso que será o fim do mundo. Não que algo necessariamente chegará ao final, ao contrário!, Finalmente teremos um novo começo.